Natal sem celebração
A notícia recebida pelo elenco do Auto do Natal na noite dessa quarta-feira (30) caiu como uma bomba no colo do já maltratado segmento cultural: o mais tradicional espetáculo do ciclo natalino promovido pela Prefeitura do Natal foi cancelado por falta de recursos para viabilizar sua produção. Orçado em R$ 800 mil, sendo R$ 480 mil para cobrir a parte artística da montagem, o projeto deveria ter sido apresentado em tempo hábil para análise da Comissão Nacional de Incentivo a Cultura (CNIC/MinC), que definirá se a proposta enviada fora do prazo será aprovada ou não na lei federal Rouanet de incentivo.
O atraso na apresentação do projeto foi ocasionado por impedimentos da Fundação Cultural Capitania das Artes junto ao Ministério da Cultura, pendências percebidas em julho e só resolvidas na última semana de novembro. Diante das incertezas, pois a proposta ainda pode ser rejeitada pelo CNIC/MinC, a 14ª edição do evento foi descartada da programação do Natal em Natal faltando pouco mais de 20 dias para sua estreia. Com a decisão, não haverá mais nenhuma atividade do Natal em Natal na Ribeira.
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE esteve na Funcarte, na manhã de ontem, na intenção de ouvir o presidente da instituição Roberto Lima a respeito do assunto, mas ele estava de licença médica. A coordenadora geral da programação do Natal em Natal, Rosy de Sousa, irmã da prefeita Micarla de Sousa (PV) e titular da Secretaria Municipal de Política para as Mulheres, não foi localizada para dar uma declaração oficial em nome do município. O celular de seu assessor direto, Max Almeida, cujo número foi informado pela Assessoria de Comunicação do Município, só chamou.
O grande problema é que os ensaios iniciaram há 15 dias, e o desfecho da questão que envolve diretamente 68 atores mais equipe de direção e produção ainda é incerta. Diana Fontes, diretora do espetáculo, confirmou o cancelamento do Auto do Natal e informou que a Prefeitura lançou duas opções para o elenco na tentativa de contornar a situação embaraçante: ou os atores recebem R$ 1 mil (em janeiro de 2012) como indenização pelas duas semanas de ensaio, ou aceitam migrar para o espetáculo "Presente de Natal" recebendo R$ 1,5 mil por quatro apresentações.
"Conversei com Bianca Dore, diretora do 'Presente de Natal', e ela topou absorver os artistas do Auto interessados em participar. Ainda não temos o número exato de pessoas que irão se incorporar, mas já começamos a planejar algumas mudanças", disse Diana, que também acumula a coordenação geral do Presente de Natal. Tia de Bianca Dore, Diana Fontes já dirigiu algumas edições do Presente e lembra que o espetáculo é o mais antigo Auto natalino encenado no RN com 15 anos de estrada - o segundo é o próprio Auto do Natal (14 anos) e o terceiro o Auto da Liberdade em Mossoró (13 anos).
Diana afirma que a proposta de incorporação lançada aos atores do Auto foi acatada por quase 40% do elenco. "Ainda veremos como será equacionada a ampliação do número de apresentações do 'Presente de Natal', pois estavam previstas apenas quatro dias (15 a 18) de encenação no anfiteatro da UFRN", disse.
Com a brecha deixada pelo Auto do Natal da Prefeitura, agendadas para os dias 21, 22 e 23 (na praça Pedro Velho) e 25 de dezembro (zona Norte), será preciso conciliar a agenda dos atores. "Nem todo mundo poderá participar das oito apresentações, e quem participar ganhará uma gratificação no cachê", adiantou Diana Fontes. A Prefeitura vai disponibilizar R$ 126 mil reais para indenizar os ensaios e incrementar o pagamento daqueles que migrarem para o Presente.
De Gringo Cardia a Lenício Queiroga, Auto existe há 14 anos
Inserido no calendário natalino da capital potiguar a partir de 1998, o Auto do Natal tinha um formato híbrido nas primeiras edições: um cortejo conduzia o público da Catedral Nova até às margens do rio Potengi, onde a encenação ocorria sobre uma grande balsa. Antônio Abujamra, Marcos Bulhões e Gringo Cardia trabalharam nessa época. Em 2002, a montagem contou com texto de Clotilde Tavares, direção de Marcos Bulhões e cenografia de Cardia. No ano seguinte, o Auto passa a ser apresentado no anfiteatro da UFRN com direção foi de Moacyr de Góes, que repetiu a dose em 2004 - ano que teve Flávia Alessandra, Elba Ramalho e a mossoroense Tony Silva no elenco.
A partir de 2005, quando Dácio Galvão assume a presidência da Funcarte, o Auto já tinha se transformado em um mega-espetáculo e o grande diferencia adotado foi o revezamento na direção, na autoria do texto e na composição da trilha sonora original. Este ano, a peça teve direção de Paulo Jorge Dumaresq e texto de Moacyr Cirne.
Em 2006, ano que o espetáculo começou a ser encerrado por shows de grandes nomes da MPB como Simone, Zé Ramalho, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Rita Lee, Titãs e Paralamas do Sucesso, Roberta Sá e Alceu Valença, o texto do Auto foi de Ney Leandro de Castro, Lenício Queiroga comandou a direção e os irmãos Galvão Filho e Babal assinaram a trilha sonora. Véscio Lisboa e Paulo de Tarso Correia de Melo, respectivamente diretor e autor do texto, protagonizaram o Auto 2007. No ano seguinte, Marize Castro (texto) e Lenilton Teixeira (direção) formaram a dupla principal.
Em 2009, de volta ao anfiteatro da UFRN, Bibi Ferreira emoldurou a primeira versão do Auto já sob administração de Micarla de Sousa. A trilha sonora foi de Valéria Oliveira e Luiz Gadelha, direção de Henrique Fontes. Vale lembrar que se chegou a cogitar a abertura de edital público para escolher o texto, a escritora Clotilde Tavares foi sondada mas a proposta acabou abortada pela Funcarte. O texto de Edson Soares emplacou pela primeira. Ano passado, Diana Fontes dirigiu a encenação do Auto, que pela segunda vez utilizou o texto de Soares.
Artistas não aceitam proposta de "migração"
O arte educador Danúbio Gomes, do projeto Pau e Lata, estava no elenco do Auto do Natal e é dos que não aceitaram a proposta de se incorporar ao "Presente de Natal". Ele contou que foi formada uma comissão para representar os artistas: "vamos formatar uma carta de repúdio decisão da Prefeitura"`. Gomes informou que havia três faixas de cachês no Auto do Natal, de R$ 3, R$ 2,5 mil e R$ 2 mil. "Não dá para se sujeitar. Participei em 2010, fui convidado este ano mas não admito a falta de respeito".
A atriz Vânia Maria Rodrigues, que também estava no elenco do Auto ano passado, é outra que não acatou a proposta. "Isso é uma tremenda loucura. Vou aceitar os R$ 1 mil pelos ensaios e pronto", disse ainda atordoada com a notícia.
Ramona Lina lamentou o ocorrido e disse que ainda "espera uma conversa oficial" entre Prefeitura e elenco. "Já trabalhei no 'Presente de Natal', amo o espetáculo, mas não vou aceitar a proposta, não me sinto à vontade para chegar na reta final e com todas essas condições impostas".
A atriz e bailarina Carol Reis ressaltou que estão oferecendo R$ 500 por quatro apresentações - "pois R$ 1 mil já estão garantidos pelos ensaios. O problema é que não há contrato nenhum com a Funcarte, é tudo só promessa. Qual a garantia que temos? Sem falar que ninguém da Capitania deu satisfação", indigna-se. Carol também não participará do Presente de Natal.
Presente recebe incentivo das leis de cultura
Criado em 1997, o espetáculo Presente de Natal passou uma década vinculado à Fundação José Augusto. Após passar alguns anos ser ser realizado, Diana Fontes ganhou o direito de usar a marca e desde 2007 o evento passou a ser particular. Este ano, o espetáculo está enquadrado nas leis municipal (Djalma Maranhão) e estadual (Câmara Cascudo) de incentivo e conta com patrocínio da Cosern, Rio Centar, Banco do Brasil, Hotel Rifóles e Cei-Romualdo Galvão.
Com elenco formado por 40 atores e um coro infanto-juvenil formado por 240 vozes, a peça aborda temas como generosidade, fraternidade e amor ao próximo. O Presente traz texto assinado por Cláudia Magalhães e Danilo Guanais, figurino de Isaque Galvão, coreografia de Bianca Dore (também diretora) e Manoele Flor. A montagem será encenada nos dias 15, 16, 17 e 18 de dezembro, no anfiteatro da UFRN, sempre às 20h.
Júnior SantosAuto do Natal ganhou projeção de megaespetáculo de fim de ano
O atraso na apresentação do projeto foi ocasionado por impedimentos da Fundação Cultural Capitania das Artes junto ao Ministério da Cultura, pendências percebidas em julho e só resolvidas na última semana de novembro. Diante das incertezas, pois a proposta ainda pode ser rejeitada pelo CNIC/MinC, a 14ª edição do evento foi descartada da programação do Natal em Natal faltando pouco mais de 20 dias para sua estreia. Com a decisão, não haverá mais nenhuma atividade do Natal em Natal na Ribeira.
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE esteve na Funcarte, na manhã de ontem, na intenção de ouvir o presidente da instituição Roberto Lima a respeito do assunto, mas ele estava de licença médica. A coordenadora geral da programação do Natal em Natal, Rosy de Sousa, irmã da prefeita Micarla de Sousa (PV) e titular da Secretaria Municipal de Política para as Mulheres, não foi localizada para dar uma declaração oficial em nome do município. O celular de seu assessor direto, Max Almeida, cujo número foi informado pela Assessoria de Comunicação do Município, só chamou.
O grande problema é que os ensaios iniciaram há 15 dias, e o desfecho da questão que envolve diretamente 68 atores mais equipe de direção e produção ainda é incerta. Diana Fontes, diretora do espetáculo, confirmou o cancelamento do Auto do Natal e informou que a Prefeitura lançou duas opções para o elenco na tentativa de contornar a situação embaraçante: ou os atores recebem R$ 1 mil (em janeiro de 2012) como indenização pelas duas semanas de ensaio, ou aceitam migrar para o espetáculo "Presente de Natal" recebendo R$ 1,5 mil por quatro apresentações.
"Conversei com Bianca Dore, diretora do 'Presente de Natal', e ela topou absorver os artistas do Auto interessados em participar. Ainda não temos o número exato de pessoas que irão se incorporar, mas já começamos a planejar algumas mudanças", disse Diana, que também acumula a coordenação geral do Presente de Natal. Tia de Bianca Dore, Diana Fontes já dirigiu algumas edições do Presente e lembra que o espetáculo é o mais antigo Auto natalino encenado no RN com 15 anos de estrada - o segundo é o próprio Auto do Natal (14 anos) e o terceiro o Auto da Liberdade em Mossoró (13 anos).
Diana afirma que a proposta de incorporação lançada aos atores do Auto foi acatada por quase 40% do elenco. "Ainda veremos como será equacionada a ampliação do número de apresentações do 'Presente de Natal', pois estavam previstas apenas quatro dias (15 a 18) de encenação no anfiteatro da UFRN", disse.
Com a brecha deixada pelo Auto do Natal da Prefeitura, agendadas para os dias 21, 22 e 23 (na praça Pedro Velho) e 25 de dezembro (zona Norte), será preciso conciliar a agenda dos atores. "Nem todo mundo poderá participar das oito apresentações, e quem participar ganhará uma gratificação no cachê", adiantou Diana Fontes. A Prefeitura vai disponibilizar R$ 126 mil reais para indenizar os ensaios e incrementar o pagamento daqueles que migrarem para o Presente.
De Gringo Cardia a Lenício Queiroga, Auto existe há 14 anos
Inserido no calendário natalino da capital potiguar a partir de 1998, o Auto do Natal tinha um formato híbrido nas primeiras edições: um cortejo conduzia o público da Catedral Nova até às margens do rio Potengi, onde a encenação ocorria sobre uma grande balsa. Antônio Abujamra, Marcos Bulhões e Gringo Cardia trabalharam nessa época. Em 2002, a montagem contou com texto de Clotilde Tavares, direção de Marcos Bulhões e cenografia de Cardia. No ano seguinte, o Auto passa a ser apresentado no anfiteatro da UFRN com direção foi de Moacyr de Góes, que repetiu a dose em 2004 - ano que teve Flávia Alessandra, Elba Ramalho e a mossoroense Tony Silva no elenco.
A partir de 2005, quando Dácio Galvão assume a presidência da Funcarte, o Auto já tinha se transformado em um mega-espetáculo e o grande diferencia adotado foi o revezamento na direção, na autoria do texto e na composição da trilha sonora original. Este ano, a peça teve direção de Paulo Jorge Dumaresq e texto de Moacyr Cirne.
Em 2006, ano que o espetáculo começou a ser encerrado por shows de grandes nomes da MPB como Simone, Zé Ramalho, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Rita Lee, Titãs e Paralamas do Sucesso, Roberta Sá e Alceu Valença, o texto do Auto foi de Ney Leandro de Castro, Lenício Queiroga comandou a direção e os irmãos Galvão Filho e Babal assinaram a trilha sonora. Véscio Lisboa e Paulo de Tarso Correia de Melo, respectivamente diretor e autor do texto, protagonizaram o Auto 2007. No ano seguinte, Marize Castro (texto) e Lenilton Teixeira (direção) formaram a dupla principal.
Em 2009, de volta ao anfiteatro da UFRN, Bibi Ferreira emoldurou a primeira versão do Auto já sob administração de Micarla de Sousa. A trilha sonora foi de Valéria Oliveira e Luiz Gadelha, direção de Henrique Fontes. Vale lembrar que se chegou a cogitar a abertura de edital público para escolher o texto, a escritora Clotilde Tavares foi sondada mas a proposta acabou abortada pela Funcarte. O texto de Edson Soares emplacou pela primeira. Ano passado, Diana Fontes dirigiu a encenação do Auto, que pela segunda vez utilizou o texto de Soares.
Artistas não aceitam proposta de "migração"
O arte educador Danúbio Gomes, do projeto Pau e Lata, estava no elenco do Auto do Natal e é dos que não aceitaram a proposta de se incorporar ao "Presente de Natal". Ele contou que foi formada uma comissão para representar os artistas: "vamos formatar uma carta de repúdio decisão da Prefeitura"`. Gomes informou que havia três faixas de cachês no Auto do Natal, de R$ 3, R$ 2,5 mil e R$ 2 mil. "Não dá para se sujeitar. Participei em 2010, fui convidado este ano mas não admito a falta de respeito".
Rodrigo SenaDiana Fontes diz que parte do elenco concordou em se integrar ao Presente.
A atriz Vânia Maria Rodrigues, que também estava no elenco do Auto ano passado, é outra que não acatou a proposta. "Isso é uma tremenda loucura. Vou aceitar os R$ 1 mil pelos ensaios e pronto", disse ainda atordoada com a notícia.
Ramona Lina lamentou o ocorrido e disse que ainda "espera uma conversa oficial" entre Prefeitura e elenco. "Já trabalhei no 'Presente de Natal', amo o espetáculo, mas não vou aceitar a proposta, não me sinto à vontade para chegar na reta final e com todas essas condições impostas".
A atriz e bailarina Carol Reis ressaltou que estão oferecendo R$ 500 por quatro apresentações - "pois R$ 1 mil já estão garantidos pelos ensaios. O problema é que não há contrato nenhum com a Funcarte, é tudo só promessa. Qual a garantia que temos? Sem falar que ninguém da Capitania deu satisfação", indigna-se. Carol também não participará do Presente de Natal.
Presente recebe incentivo das leis de cultura
Criado em 1997, o espetáculo Presente de Natal passou uma década vinculado à Fundação José Augusto. Após passar alguns anos ser ser realizado, Diana Fontes ganhou o direito de usar a marca e desde 2007 o evento passou a ser particular. Este ano, o espetáculo está enquadrado nas leis municipal (Djalma Maranhão) e estadual (Câmara Cascudo) de incentivo e conta com patrocínio da Cosern, Rio Centar, Banco do Brasil, Hotel Rifóles e Cei-Romualdo Galvão.
Com elenco formado por 40 atores e um coro infanto-juvenil formado por 240 vozes, a peça aborda temas como generosidade, fraternidade e amor ao próximo. O Presente traz texto assinado por Cláudia Magalhães e Danilo Guanais, figurino de Isaque Galvão, coreografia de Bianca Dore (também diretora) e Manoele Flor. A montagem será encenada nos dias 15, 16, 17 e 18 de dezembro, no anfiteatro da UFRN, sempre às 20h.
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