10 anos sem Cássia Eller: um hiato de atitude na música brasileira
Cássia Eller nasceu Cássia Rejane Eller, na cidade do Rio de Janeiro, em 10 de dezembro de 1962. Devido às constantes mudanças, que eram comuns na carreira militar de seu pai, ela passou sua infância e adolescência morando em várias cidades brasileiras. Viveu em Belo Horizonte, Santarém, novamente no Rio, e em Brasília. Aos 14 anos, quando ganhou seu primeiro violão, começou a cantar, mas foi na capital do país que ela decidiu apostar na carreira musical. Mesmo jovem, fazia shows em barzinhos da cidade, cantava em corais e participava do primeiro trio elétrico brasiliense, no qual cantou por dois anos. Mas foi apenas quando gravou uma fita demo com a música “Por Enquanto”, da banda Legião Urbana, que Cássia Eller despontou no cenário musical. Pela gravadora Polygram, ela gravou seu primeiro CD, intitulado simplesmente “Cássia Eller” e a música composta por Renato Russo acabou sendo o seu primeiro sucesso.
Seu segundo álbum, “O Marginal”, não teve grande repercussão, mas consolidou o notável timbre grave de sua voz. No terceiro disco, também intitulado “Cássia Eller”, gravou a canção “Malandragem”, de Cazuza e Frejat. A música havia sido escrita para Angela Rô Rô, que não quis gravá-la, e foi então dada de presente para Cássia, por Frejat. A música foi um grande sucesso de sua carreira. Na época, seu filho, Francisco Eller, tinha acabado de nascer. A artista realizou, em seguida, o show “Violões”, que contava com três instrumentos no palco: o de Cássia (ausente apenas em “Música Urbana 2”), o de Walter Villaça e o de Luce Nascimento. Em seguida, a cantora gravou “Veneno AntiMonotonia”, com regravações de músicas de Cazuza, em 1997. Em 1999, lançou “Com Você… Meu Mundo Ficaria Completo”, conseguindo imprimir a suavidade que faltava em suas músicas, já que o filho dizia que ela “cantava gritando muito”.
Cássia era dotada de uma timidez desconcertante, quando conversava, e ao mesmo tempo, de uma rebeldia juvenil, quando subia aos palcos. Em suas apresentações, quase sempre se via gestos como coçar as partes íntimas, cuspir no chão ou mostrar os seios. Sua presença de palco era intensa e sua capacidade de se apropriar das músicas que cantava era indiscutível. A artista cantava blues, rock, MPB e samba com a mesma maestria; sem criar diferenças ou barreiras entre um gênero musical e outro. Na verdade, em sua voz, tudo era simplesmente boa música. Apesar disso, Cássia compôs apenas três das muitas canções que interpretou.
Ao cair da noite daquele fatídico dia 29 de dezembro de 2001, ouvia-se o anúncio de morte da cantora Cássia Eller. Há exatos 10 anos, interrompia-se a trajetória de uma das mais singulares intérpretes da música brasileira. A roqueira estava no auge de sua carreira após um ano de intensa produtividade. Foram levantadas suspeitas de que a causa da morte estava diretamente ligada ao uso de drogas, já que a cantora fez uso de álcool e cocaína por muitos anos. Mas sua autópsia descartou essa hipótese e confirmou o diagnóstico de morte em razão de um infarto do miocárdio, resultante de sequenciais paradas cardiorrespiratórias.
O Brasil perdeu Cássia em um momento de grande visibilidade e intensa produção de sua carreira. Para os mais íntimos, ela estava cansada e abalada emocionalmente, além de não saber lidar com o assédio decorrente daquele sucesso. Seu filho, que ficou conhecido como Chicão, (fruto de um relacionamento com o baixista Tavinho Fialho, falecido em um acidente automobilístico), vive hoje com Maria Eugênia Vieira Martins, sua companheira de vida .
Cássia Eller teve uma meteórica, porém marcante, carreira de 12 anos. Gravou nove álbuns, entre discos de estúdio e apresentações ao vivo. Aquele ano de 2001 tinha sido um dos mais produtivos: tocou no Rock in Rio III, em janeiro e gravou o especial “Acústico MTV”, que culminou em uma turnê de 95 shows em apenas sete meses. O CD “Acústico MTV” já superou a marca de um milhão de cópias vendidas.
Em breve o público terá a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre Cássia através do documentário de sua vida, que deve ser lançado na data que se comemoraria seu aniversário de 50 anos. A direção é de Paulo Henrique Fontenelle, autor do premiado “Loki” sobre o músico Arnaldo Baptista, e já está em processo de pesquisa e coleta de registros para ser roteirizado.
Enquanto isso, os fãs podem conferir os recentes lançamentos do CD “Relicário – As Canções que o Nando Fez pra Cássia Cantar”, produzido por seu grande amigo Nando Reisjuntamente com Felipe Cambraia, e da “Caixa Eller ou O Mundo Completo de Cássia Eller”, homenagem da Universal Music à cantora, que incluiu nove CDs de carreira e o DVD do inesquecível show “Violões”.
Cássia Eller imprimiu seu nome na música com uma voz marcante, uma irreverência admirável, uma gargalhada despojada e muita simplicidade. Ela gostava de cantar e conseguiu agradar público e crítica. Não há como preencher o espaço vazio que deixou, mas há como lembrá-la sempre e não permitir que ela entre para o grupo dos grandes artistas que caíram no esquecimento popular.
Relembre a seguir um dos grandes momentos da carreira de Cássia Eller e também da música brasileira:
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