11 de abr. de 2011

Santa Ceia etílica

Exposição a `` Grande Ceia ´´ reune 12 artistas potiguares que recriam ao seu modo e estilo a famosa pintura de Leonardo da Vinci `` A Última Ceia ´´ na Galeria do Bardallos no Centro Histórico.
Vernissage que acontece nesta quarta, 13 contará com a presença do renomado pintor-ícone da arte primitiva Waldomiro de Deus e de sua esposa também artista plástica Lourdes de Deus.
A proximidade com a semana santa inspirou a exposição que acontece a partir desta quarta, na galeria do Bardallos, `` A Grande Ceia ´´ reunirá 12 telas de artistas de diferentes estilos e técnicas, todas inspiradas na famosa pintura `` A Santa Ceia ´´ ou `` A Última Ceia ´´de Leonardo Da Vinci. Com curadoria de Jotó e apresentação de Ricardo Veriano a exposição contará com trabalhos dos artistas: Assis Marinho, Arruda Sales, Bruno Resende, Carlos Sérgio Borgess , Fábio Eduardo, Fernando Galvão, Franklin Serrão, Isaias Ribeiro, Lavozier, Roberto Medeiros, Rosa Maciel e Tiago Vicente. O convidado Waldomiro de Deus apresentará também a sua revisitação de `` A Última Ceia ´´ apenas com personagens negros. A exposição é também uma homenagem aos 559 anos do nascimento de Leonardo Da Vinci.
Sobre Leonardo Da Vinci
Nascido em 15 de abril de 1452, na cidade de Vinci, próxima a Florença, e falecido em 2 de maio de 1519, em Cloux, na França, o nome Leonardo da Vinci carrega o mito de este ter sido uma das personalidades que mais encarnaram o espírito renascentista de sua época. Ao lado de suas atividades artísticas na pintura, escultura e arquitetura, Leonardo da Vinci foi um rigoroso investigador científico, sendo engenheiro e ainda inventor, chegando até, de certa forma, a criar os princípios de uma máquina voadora muito semelhante ao moderno helicóptero, ao passo que já previa a invenção do planador. Foi, sem dúvida, um dos grandes criadores de seu tempo.

A Última Ceia (em italiano L'Ultima Cena e também Il Cenacolo) é um afresco de Leonardo da Vinci para a igreja de seu protetor, o Duque Lodovico Sforza. Representa a cena da última ceia de Jesus com os apóstolos, antes de ser preso e crucificado como descreve a Bíblia. É um dos maiores bens conhecidos e estimados do mundo. Está baseada em João 13:21, no qual Jesus anuncia aos doze apóstolos que alguém, entre eles, o trairia. Essa pintura, na história evangélica, é considerada a mais dramática de todas. Ao centro, o Cristo é representado com os braços abertos, em um gesto de resignação tranquila, formando o eixo central da composição. São representadas as figuras dos discípulos em um ambiente que, do ponto de vista de perspectiva, é exato. Desde que foi pintada, seu complexo simbolismo jamais parou de fascinar os estudiosos. Muitos identificaram, na obra, uma secreta associação com a astronomia e a astrologia.
Uma lenda referente à pintura da Santa Ceia, ou “Última Ceia”:
Ao conceber este quadro, Leonardo da Vinci deparou-se com uma grande dificuldade: precisava pintar o bem - na imagem de Jesus,e o mal - na figura de Judas, o amigo que resolvera traí-lo durante o jantar.

Interrompeu o trabalho no meio, até que conseguisse encontrar os modelos ideais. Certo dia, enquanto assistia a um coral, viu em um dos rapazes a imagem perfeita de Cristo. Convidou-o para o seu ateliê, e reproduziu seus traços em estudos e esboços. Passaram-se três anos. A “Última Ceia” estava quase pronta, mas Da Vinci ainda não havia encontrado o modelo ideal de Judas. O cardeal, responsável pela igreja, começou a pressioná-lo, exigindo que terminasse logo o mural. Depois de muitos dias procurando, o pintor finalmente encontrou um jovem prematuramente envelhecido,
bêbado, esfarrapado, atirado na sarjeta. Imediatamente, pediu aos seus assistentes que o levassem até a igreja. Da Vinci copiava as linhas da impiedade, do pecado, do egoísmo, tão bem delineadas na face do mendigo, que mal conseguia parar em pé. Quando terminou, o jovem - já um pouco refeito da bebedeira – abriu os olhos e notou a pintura à sua frente. E disse, numa mistura de espanto e tristeza:
- Eu já vi esse quadro antes!
- Quando? Perguntou, surpreso, Da Vinci
Há três anos atrás, antes de eu perder tudo o que tinha, numa época em que eu cantava num coro, tinha uma vida cheia de sonhos e o artista me convidou para posar como modelo para a face de Jesus.
“O Bem e o Mal têm a mesma face; tudo depende apenas da época em que cruzam o caminho de cada ser humano”.

Outra informação Cogitada é que o rosto de Judas representado na pintura retrataria Girolamo Savonarola, padre Dominicano que governou Florença e que foi executado por ordem do Papa Alexandre VI em 1498.
O multifacetado Waldomiro de Deus

Quem é, afinal, Waldomiro de Deus? Conhecendo seus quadros e sua vida, encontramos um ser multifacetado. Nasce no interior da Bahia, vem como retirante para São Paulo, torna-se pinbahippie, freqüenta a movimentada Rua  Augusta dos anos 60, viaja à Europa, passa a acreditar em Deus em Israel, mora numa casa enorme com um caixão em Osasco e, acima de tudo, pinta como poucos.

Reconhecido como um dos principais pintores naïfs brasileiros, Waldomiro recebe numerosos elogios de críticos nacionais e internacionais. Suas cores, seus temas, sua simbologia, sua personalidade e religiosidade se entrelaçam e se confundem. Sem escolher tema, tem no cotidiano sua grande matéria, mas também pinta o que não vê, como planetas ainda não conhecidos pela ciência e mesmo astronautas brasileiros na Lua.

Waldomiro não é um artista. é vários. Começou retratando o folclore e passou por foguetes, críticas sociais, planetas, peixes e flores. Há também imagens sensuais e erotismo, assim como pureza e encantamento de namorados. Tudo é motivo para ele exibir uma técnica que aprendeu sozinho, sem nunca ter pisado numa escola de qualquer espécie.

Seu trabalho, talvez não facilmente digerível num primeiro momento, é digno de maior atenção e, se nem sempre agrada, pelo menos incomoda, o que não é pouco no marasmo atual de boa parte da produção cultural brasileira, dominada por tendências que geralmente vêm do exterior e que artistas macaqueiam para atender solicitações de curadores.

Conhecer Waldomiro é mergulhar no universo de um criador que vai de uma Nossa Senhora de minissaia a uma alegórica travessia do milênio com corpos e rostos morenos rumo ao Brasil do ano 2050. Para Waldomiro, a vida é tudo menos estaticidade. Por isso, comporta-se como camaleão. Está sempre mudando.

Porém, enquanto o animal muda para não ser visto no ambiente em que se encontra, fugindo dos predadores, Waldomiro funciona ao inverso. Isso significa que muda antes do meio que o cerca para ser notado. Coloca-se, portanto, na vanguarda, esperando que os que estão ao seu redor o sigam. Teremos essa capacidade?

Oscar D'Ambrosio
Jornalista e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UNESP, integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA - Seção Brasil).


Lourdes de Deus 
Nasceu em Pernambuco-PE em 1959, mudou-se para Osasco quando tinha apenas dois anos de idade. Casou-se com o pintor Naif Waldomiro de Deus em 1976, e convivendo com o dia-a-dia do artista passou a tomar gosto pela arte, começando a pintar em 1992, daí em diante, seu trabalho foi se aperfeiçoando. O poeta Carlos Drummond de Andrade, em "O avesso das coisas" apontou a flor não nasceu para decorar uma casa, embora o morador pense o contrário, o mesmo ocorre com a pintura de Lourdes de Deus. Quem observa seus quadros pode, ingenuamente, ver apenas flores, festas populares e procissões, doce ilusão. Há nas imagens da artista um denso sentimento estético, expresso em formas bem definidas e cores vívidas.



Desde o começo, porém, seus quadros deixavam pouco espaço livre na tela. Até hoje, o branco é compulsivamente preenchido, mais com a delicadeza. O olho do espectador tenta em vão escapar do quadro, mais novos elementos, geralmente harmonicamente repetidos, chamam-no de volta envolvem num jogo imagético, que encanta pela pureza e simplicidade.



Mas há um pouco de ingenuidade nesse processo. Assim como o poeta falava das flores, as telas de Lourdes parecem ser feitas para decorar, revelam uma consciente e elaborada transformação da realidade. As festas populares do interior e as formas da natureza ganham então novas conotações e levam a refletir sobre a complexidade do mundo moderno que nos afasta das coisas mais simples e belas da vida.



A pintora, portanto, reintroduz nosso olhar no cotidiano. Flores não são apenas elementos da natureza, mais indiciam a ingenuidade perdida pela vida atribulada, enquanto as festividades do interior e procissões indicam um caminho possível para recuperar o prazer de viver. De fato, Drummond, como de hábito, não se enganava: flores não são feitas como adorno, mas ensinam a viver. Qualquer semelhança com as telas de Lourdes não é mera coincidência. 



Oscar D´Ambrósio, jornalista e mestre em artes visuais pelo Instituto de Artes da UNESP, integra a AICA Internacional de críticos de Arte (AICA-Sessão Brasil)

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