Cantor e compositor retorna com novo disco, 'Muito Pouco' |
O selo Casulo marca uma transformação na carreira de Paulinho Moska, desde que se tornou artista independente em 2004. Compositor inquieto, criador original, Moska não se deixa classificar. Seus trabalhos se complementam seja no palco, na TV, no rádio ou web.
A prova de sua multiplicidade está registrada no seu mais recente álbum,Muito Pouco (marca de sua estreia na Biscoito Fino) onde as dualidades, aparentemente opostas, se completam. Um lado mais agressivo, outro mais sereno, cada disco com nove canções repletas de poesia. Ele festeja ao lado de Chico Cesar, Zélia Duncan, Kevin Johasen, Leoni, Maria Gadú e Pedro Aznar – parcerias presentes em diferentes faixas, que o músico nomeia de intimidade.
Muito Pouco retoma o conceito plástico de seu trabalho, já presente emTudo Novo de Novo em que Moska mistura suas canções com reflexos distorcidos de sua imagem. Além do novo trabalho musical, Moska também apresenta a quinta temporada do programa Zoombido noCanal Brasil - que ganhou uma versão para o rádio na MPB FM - e divide seu tempo com a fotografia, grande paixão.
Em entrevista ao Cultura.rj, Paulinho Moska fala sobre sua carreira, revelando aspectos importantes de seu novo trabalho.
Muito Pouco foi lançado seis anos após seu último álbum. Por que esse hiato entre um disco e outro?
Paulinho Moska - Muitos foram os motivos... Em 2004 me tornei um artista independente depois de 13 anos contratado da EMI e tive que me reestruturar, abri um selo (Casulo) e montei uma equipe, um escritório, enfim, foi um recomeço. Outra coisa que me aconteceu foi o convite pra criar/apresentar o Zoombido... Pensei que seria apenas um ano, mas já estamos na quinta temporada... E o Zoombido, além de ser uma experiência humana/artística maravilhosa, me dá muito trabalho. Eu participo ativamente de todo o processo de mixagem e edição do programa. E pra finalizar, a turnê do disco anterior (Tudo Novo de Novo) foi muito bem sucedida e durou mesmo seis anos (o último show foi dois meses antes do lançamento do Muito Pouco). Além do Brasil, cantei pela primeira vez em alguns países da América Latina. Aprendi que um disco deve ter uma vida mais longa, que ele necessita de um tempo maior para ser assimilado, porque cada canção tem o seu próprio tempo para se tornar madura dentro de quem a escuta.
Neste novo álbum, as canções mais melódicas de “Muito” e mais introspectivas de “Pouco” se completam. Como foi o processo de criação?
Moska - Nesses seis anos não parei de compor e quando reuni as canções que gostava para selecionar o repertório do novo disco, contei 34 músicas! Tentei a todo custo escolher no máximo 13, mas só consegui chegar a 18. Fui gravando primeiro o disco com banda (Muito) sem saber que seria um álbum duplo... Eu pensava que no final eu escolheria as tais 13 canções depois de gravar tudo. Acontece que um processo artístico não termina como começa. Nos intervalos das gravações de estúdio, também gravava no computador de casa alguns registros de ideias bem simples que acabaram se tornando o disco Pouco. Percebi que o nome de uma das canções (Muito Pouco) poderia se desmembrar em duas e batizar um projeto que se caracterizaria justamente pela dualidade. São discos gêmeos bi-vitelinos, têm os mesmos DNAs, mas diferentes entre si... Foram gerados no mesmo útero, resultado do mesmo amor. Muito é um disco pra fora, um grito. Pouco é um disco pra dentro, silencioso. Acho que o Homem é assim, dual... Muito e pouco, feliz e triste, forte e fraco, exibido e tímido...
"Mas muito pra mim é tão pouco / E pouco é um pouco demais" Como é a sua relação com as palavras? Você se considera um poeta de 'livros sonoros'?
Moska - Não sou poeta, não sou músico, não sou cantor, não sou fotógrafo, não sou ator, não sou apresentador de TV nem de rádio. Sou um compositor, no sentido em que “compor” é juntar coisas. Eu junto um pouco de poesia com um pouco de música, um pouco de canto com um pouco de fotografia, um pouco de teatro com um pouco de TV e rádio... E realizo meus projetos. É claro que a canção é o fio condutor e o fim de tudo. E canção é palavra cantada. A palavra para mim é como uma peça de um jogo, eu me divirto muito quando estou escrevendo. Me sinto criança. Sorrio feliz quando consigo encontrar uma expressão ou frase que possua aquele equilíbrio entre forma e conteúdo.
Além da música, de que tipos de leitura você se alimenta? Quais são os autores que você lê?
Moska - Me interesso por tudo. Ter muitas atividades me libera da necessidade de ser o melhor em uma delas. Acredito na potencialização entre as artes. Cada coisa que faço potencializa as outras: fotografar melhora minha poesia que melhora minha música que melhora meu canto que melhora minha atuação que melhora... Que melhora... Que melhora... Com a leitura é assim também. Leio quadrinhos (Neil Gaiman, Will Eisner), filosofia (Gilles Deleuze, Bachelard), literatura (Virgínia Wolf, Paul Auster, Saramago), poesia (Manuel de Barros, Fernando Pessoa), entrevistas, biografias, ciência (Stephen Jay Gould, Oliver Sacks), religião, história. E vou misturando.
Como é feita a escolha dos parceiros para as músicas? Zélia Duncan, por exemplo, é uma parceira frequente.
Moska - Parceria para mim é intimidade. Não consigo ser parceiro de quem eu não conheço pessoalmente. Recebo coisas lindas pela internet, mas não tenho nenhuma canção com alguém que eu não tenha alguma relação de amizade real, não virtual. Sou do Amor.
Qual a experiência de ter uma canção cantada por outro intérprete? "Saudade", gravada por você e Lenine, já foi gravada por Maria Bethânia, por exemplo.
Moska - Eu gravei “Saudade” com meu parceiro na canção (outro grande amigo) Chico Cesar. Bethânia gravou antes a mesma canção com o Lenine. E quando Bethânia grava alguma coisa, essa coisa se torna um clássico. Ser gravado por outros intérpretes é o maior presente que um compositor pode ganhar. Uma canção feita na intimidade de casa que “serve” ao discurso/alma do outro. Adoro “ser” o outro, o outro também me melhora.
Além de cantor e compositor, você é ator de teatro e cinema, criador e apresentador do programa Zoombido, no Canal Brasil. Fale sobre essa transição entre as artes?
Moska - É como a gente estava convesando antes, mas queria acrescentar que o Brasil tem a diversidade cunhada na própria origem e que eu me sinto brasileiro exatamente porque me interesso por tudo. E meu critério é a felicidade. Quero ser uma variedade, quero me pluralizar. Quero ser cada vez mais brasileiro nesse sentido.
Nos últimos anos as mulheres têm se destacado no MPB: Thais Gulin, Maria Gadú, Maria Aydar, Roberta Sá, Tiê, Céu, Tulipa Ruiz... E os cantores brasileiros? Quem você apontaria?
Moska - As mulheres sempre se destacaram mais como intérpretes e os homens como compositores, mas cada vez mais escuto lindíssimas canções compostas por mulheres que se interpretam. Gosto muito de todas que você citou, cada uma delas está desenhando com muita graça e ousadia a própria assinatura. Gosto muito também de Marcelo Camelo e de Rodrigo Amarante. O grupo de samba Casuarina chegou com muito equilíbrio de qualidades. E Dani Black (filho da Tetê Espíndola) é uma novidade que deve ser conferida.
A prova de sua multiplicidade está registrada no seu mais recente álbum,Muito Pouco (marca de sua estreia na Biscoito Fino) onde as dualidades, aparentemente opostas, se completam. Um lado mais agressivo, outro mais sereno, cada disco com nove canções repletas de poesia. Ele festeja ao lado de Chico Cesar, Zélia Duncan, Kevin Johasen, Leoni, Maria Gadú e Pedro Aznar – parcerias presentes em diferentes faixas, que o músico nomeia de intimidade.
Muito Pouco retoma o conceito plástico de seu trabalho, já presente emTudo Novo de Novo em que Moska mistura suas canções com reflexos distorcidos de sua imagem. Além do novo trabalho musical, Moska também apresenta a quinta temporada do programa Zoombido noCanal Brasil - que ganhou uma versão para o rádio na MPB FM - e divide seu tempo com a fotografia, grande paixão.
Em entrevista ao Cultura.rj, Paulinho Moska fala sobre sua carreira, revelando aspectos importantes de seu novo trabalho.
Muito Pouco foi lançado seis anos após seu último álbum. Por que esse hiato entre um disco e outro?
Paulinho Moska - Muitos foram os motivos... Em 2004 me tornei um artista independente depois de 13 anos contratado da EMI e tive que me reestruturar, abri um selo (Casulo) e montei uma equipe, um escritório, enfim, foi um recomeço. Outra coisa que me aconteceu foi o convite pra criar/apresentar o Zoombido... Pensei que seria apenas um ano, mas já estamos na quinta temporada... E o Zoombido, além de ser uma experiência humana/artística maravilhosa, me dá muito trabalho. Eu participo ativamente de todo o processo de mixagem e edição do programa. E pra finalizar, a turnê do disco anterior (Tudo Novo de Novo) foi muito bem sucedida e durou mesmo seis anos (o último show foi dois meses antes do lançamento do Muito Pouco). Além do Brasil, cantei pela primeira vez em alguns países da América Latina. Aprendi que um disco deve ter uma vida mais longa, que ele necessita de um tempo maior para ser assimilado, porque cada canção tem o seu próprio tempo para se tornar madura dentro de quem a escuta.
Neste novo álbum, as canções mais melódicas de “Muito” e mais introspectivas de “Pouco” se completam. Como foi o processo de criação?
Moska - Nesses seis anos não parei de compor e quando reuni as canções que gostava para selecionar o repertório do novo disco, contei 34 músicas! Tentei a todo custo escolher no máximo 13, mas só consegui chegar a 18. Fui gravando primeiro o disco com banda (Muito) sem saber que seria um álbum duplo... Eu pensava que no final eu escolheria as tais 13 canções depois de gravar tudo. Acontece que um processo artístico não termina como começa. Nos intervalos das gravações de estúdio, também gravava no computador de casa alguns registros de ideias bem simples que acabaram se tornando o disco Pouco. Percebi que o nome de uma das canções (Muito Pouco) poderia se desmembrar em duas e batizar um projeto que se caracterizaria justamente pela dualidade. São discos gêmeos bi-vitelinos, têm os mesmos DNAs, mas diferentes entre si... Foram gerados no mesmo útero, resultado do mesmo amor. Muito é um disco pra fora, um grito. Pouco é um disco pra dentro, silencioso. Acho que o Homem é assim, dual... Muito e pouco, feliz e triste, forte e fraco, exibido e tímido...
"Mas muito pra mim é tão pouco / E pouco é um pouco demais" Como é a sua relação com as palavras? Você se considera um poeta de 'livros sonoros'?
Moska - Não sou poeta, não sou músico, não sou cantor, não sou fotógrafo, não sou ator, não sou apresentador de TV nem de rádio. Sou um compositor, no sentido em que “compor” é juntar coisas. Eu junto um pouco de poesia com um pouco de música, um pouco de canto com um pouco de fotografia, um pouco de teatro com um pouco de TV e rádio... E realizo meus projetos. É claro que a canção é o fio condutor e o fim de tudo. E canção é palavra cantada. A palavra para mim é como uma peça de um jogo, eu me divirto muito quando estou escrevendo. Me sinto criança. Sorrio feliz quando consigo encontrar uma expressão ou frase que possua aquele equilíbrio entre forma e conteúdo.
Além da música, de que tipos de leitura você se alimenta? Quais são os autores que você lê?
Moska - Me interesso por tudo. Ter muitas atividades me libera da necessidade de ser o melhor em uma delas. Acredito na potencialização entre as artes. Cada coisa que faço potencializa as outras: fotografar melhora minha poesia que melhora minha música que melhora meu canto que melhora minha atuação que melhora... Que melhora... Que melhora... Com a leitura é assim também. Leio quadrinhos (Neil Gaiman, Will Eisner), filosofia (Gilles Deleuze, Bachelard), literatura (Virgínia Wolf, Paul Auster, Saramago), poesia (Manuel de Barros, Fernando Pessoa), entrevistas, biografias, ciência (Stephen Jay Gould, Oliver Sacks), religião, história. E vou misturando.
Como é feita a escolha dos parceiros para as músicas? Zélia Duncan, por exemplo, é uma parceira frequente.
Moska - Parceria para mim é intimidade. Não consigo ser parceiro de quem eu não conheço pessoalmente. Recebo coisas lindas pela internet, mas não tenho nenhuma canção com alguém que eu não tenha alguma relação de amizade real, não virtual. Sou do Amor.
Qual a experiência de ter uma canção cantada por outro intérprete? "Saudade", gravada por você e Lenine, já foi gravada por Maria Bethânia, por exemplo.
Moska - Eu gravei “Saudade” com meu parceiro na canção (outro grande amigo) Chico Cesar. Bethânia gravou antes a mesma canção com o Lenine. E quando Bethânia grava alguma coisa, essa coisa se torna um clássico. Ser gravado por outros intérpretes é o maior presente que um compositor pode ganhar. Uma canção feita na intimidade de casa que “serve” ao discurso/alma do outro. Adoro “ser” o outro, o outro também me melhora.
Além de cantor e compositor, você é ator de teatro e cinema, criador e apresentador do programa Zoombido, no Canal Brasil. Fale sobre essa transição entre as artes?
Moska - É como a gente estava convesando antes, mas queria acrescentar que o Brasil tem a diversidade cunhada na própria origem e que eu me sinto brasileiro exatamente porque me interesso por tudo. E meu critério é a felicidade. Quero ser uma variedade, quero me pluralizar. Quero ser cada vez mais brasileiro nesse sentido.
Nos últimos anos as mulheres têm se destacado no MPB: Thais Gulin, Maria Gadú, Maria Aydar, Roberta Sá, Tiê, Céu, Tulipa Ruiz... E os cantores brasileiros? Quem você apontaria?
Moska - As mulheres sempre se destacaram mais como intérpretes e os homens como compositores, mas cada vez mais escuto lindíssimas canções compostas por mulheres que se interpretam. Gosto muito de todas que você citou, cada uma delas está desenhando com muita graça e ousadia a própria assinatura. Gosto muito também de Marcelo Camelo e de Rodrigo Amarante. O grupo de samba Casuarina chegou com muito equilíbrio de qualidades. E Dani Black (filho da Tetê Espíndola) é uma novidade que deve ser conferida.
Colaboração de Ramon Mello
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